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Linhas Entre Nós

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Meet The Author

2 avaliações de Linhas Entre Nós

  1. Delfina Alves

    Li o Linhas Entre Nós na edição original, em papel, e deliciei-me.
    Quando apareceu a versão digital, na Bibliotrónica Portuguesa,
    aproveitei para o recomendar a conhecidos que gostam de escrita
    cuidada, mas, na altura, não me apercebi de que era viável fazer
    uma apreciação sobre o trabalho.
    Agora, que um grupo de amigos e ex-colegas procuravam obras
    que valesse a pena discutir em Zoom, lá se perfilou, em lugar de
    destaque, o livro que não passara ao olvido.
    E porque é que eu, sendo uma leitora permanente, não esqueci o
    Linhas Entre Nós, entre tantos outros?
    Há livros que partem, e há alguns, mais raros, que ficam: este ficou,
    e julgo que por mérito próprio, para além do meu gosto pessoal.
    Deixemos os cinco poemas, que vão desde a quase ingenuidade
    agradável e sonora, como é o caso de O Beijo da Estrela e

    Imagens, ao tom quase bíblico de Serra da Estrela, e guardemos a
    atenção para os cinco contos; os contos e as «Notas Coloquiais»
    que, quantas vezes, se transformam, elas mesmas, em histórias
    cativantes.
    Quem de nós não tem ascendência em vila ou aldeia provinciana?
    Pois o livro, através de ficções de base histórica, local ou nacional,
    conduz-nos a uma revolta popular em vila serrana, motivada pela
    pobreza (contida com armas que se tinham estreado na Grande
    Guerra), por causa de água, que Deus dava… mas não canalizara
    para a casa de cada um.
    Revela-nos a vida de pastor e a sua filosofia analítica, pura, mas
    sentida, em contraste com o homem que conduzia os destinos da
    república, e que repousava, na Serra da Estrela, das turbulências
    da capital.
    Ou envolve-nos na mística de uma lenda antiga, em que a
    fatalidade se impõe, mas talhada pelas nossas mãos.
    E sobre o primeiro herói da nossa nacionalidade?! Surpreendente…
    e em locais que podemos visitar.
    E a doçura, a ternura, com que nos fala de botas e sapatos, em
    tempos em que a sua valia era não somente considerada pelo
    conforto ou necessidade, mas, pasme-se, pela sua classificação
    social. Desafio-os a deixarem-se cativar pela descrição, que nada
    tem de prosaica, de como se faziam uns sapatos… e que história a
    desses sapatos!
    E tudo num ambiente que nos permite conhecer as personagens,
    partilhar as suas casas, oficinas, lugares de convívio, ruas,
    fontanários, serranias, linguajar próprio, numa riqueza etnográfica
    que não deve perder-se.
    E ousando apresentar-nos as pessoas, com os seus próprios
    nomes, que viveram os acontecimentos, tornando inultrapassável
    em genuinidade cada linha e cada diálogo.
    Contenho-me, permitindo-me apenas mencionar ainda um
    «Glossário», que simplifica a interpretação de regionalismos, e um
    «Guia Toponímico» que nos convida a viajar nos locais, alguns
    paradisíacos, que são o pano de fundo dos enredos.
    Fica o convite.

  2. Graciela Neves

    A leitura foi-me abrindo portas, algumas entreabertas, outras no trinco, outras ainda de fecho e trancas cerradas.

    O diálogo esbravejado entre livro e autor, cada qual com a sua teimosia e “modéstia” constitui propositada e inusitadamente peculiar prólogo, arremessando o eventual incauto leitor numa emboscada literária para a qual necessita de apetrechos linguísticos, históricos e geográficos – os mais palpáveis – para melhor descoberta/fruição da obra.

    No conto da água só pude encontrar verdade. Tão genuínas aquelas gentes, com a frontalidade que lhes é característica, a solidariedade de mão cheia, as lutas denodadas, as brigas mais brejeiras, as vozes repletas de termos arrancados à tradição, à terra, à sapiência, ao trabalho e sofrimento. Frases e palavras que ecoavam e encaixavam exatamente naquilo que eu conheço, memorizo e aprecio dos meus amigos de Manteigas.

    No conto narrado por um cão, não sei qual a personagem de maior destaque.Creio que os atores – pastor, cães e Afonso Costa – cada qual puxa pelos seus galões a refulgir estrela.

    Viriato é um compêndio de história, é uma mostra da intensa cultura do autor, é uma linha de ficção para se poder alindar com os restantes.

    As botas do Zé, são mesmo as botas dele, sem tirar nem pôr – diria a galinha da minha vizinha. Aqui reconhece-se o pai do autor, como noutros espreitam os seus antepassados, a mãe, a irmã. Sem perceber nada destas coisas intencionais, projetivas e biográficas do autor, atrever-me-ia a afirmar que o orgulho, a emoção, a afetividade, a gratidão, o sentido de pertença, a raíz, a herança familiar são as papilas gustativas ao rubro que nos fazem saborear o conto, ponto por ponto.

    Talvez o autor quisesse vestir várias personagens para afugentar a monocromia de único narrador, talvez esconder-se nelas ou trazer maior riqueza – não metade da metade, mas em dobro dobrada – ou ainda entre mil razões ver a mesma tela com olhos diversos. Essa perspetiva obrigou o leitor a afinar ponteiros ao deparar-se com contos, poemas, personagens e explicações argumentativas.

    Agradeço a oportunidade que me foi dada para conhecer esta magnífica obra.

    Felicito a coragem do autor para expor ao público uma escrita tão esmeradamente cuidada, elevando e dignificando brilhantemente a nossa Língua.

    Um abraço,

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