Em tempos de grande sofrimento na ilha da Madeira, a Bibliotrónica Portuguesa publicou esta semana a reedição de um romance da escritora madeirense Maria do Monte de Sant’ Ana e Vasconcelos, nascida no Funchal, em 1823.
O Cura de S. Lourenço é considerado o primeiro romance histórico escrito por uma mulher portuguesa.
Deixamos aqui um excerto da obra agora publicada, convidando todos os nossos leitores a salvá-la do esquecimento com a leitura e a divulgação:
Estava-se no mez de março de 1814. De tempos a tempos o cura de S. Lourenço passava dois ou tres dias na cidade de Valencia, em casa do seu amigo.
Esta casa era uma especie de club, onde se ajuntavam todas as noites os amigos que vinham contar-lhe as noticias do dia, e ali conversavam e commentavam os acontecimentos.
As tropas dos alliados já cercavam a capital da França. Bonaparte estava em Fontainebleau. Tudo era confusão; os viajantes que vinham do norte encontravam no caminho calleças com prisioneiros russos, outras carregadas de francezes feridos e moribundos!
Jeronymo, entregue a Deus e ao seu ministerio, não nutria paixão nenhuma politica; mas tinha como uma affeição paternal pela familia Montferrier. Elle escreveu d’ali mesmo a Alberto, aconselhando-o a não ficar até ao desfecho da situação, e que voltasse ao pacifico retiro da sua familia.
O cura e sua irmã acompanharam Theresa na sua extrema inquietação. As noticias chegavam uma após outra; conhecidos ou estranhos, todos se communicavam. Um pobre aldeão de Voiron bateu uma tarde á porta do jardim, e depois de ter perguntado a Theresa o seu nome, tirou com ar mysterioso um papel do seio; era uma carta de Alberto de Montferrier.