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Vejo-me encurralado numa cela por um exército de grades.

 – Isto é um erro – Declaro convicto a minha inocência, mas os guardas uniformizados são surdos.

Passei meses a perceber que, aqui, a independência depende de não querer nada de que me possam privar. Sou obrigado a ajustar o tempo em função de um relógio mentiroso. Rejeito a prisão. Não conseguem subjugar-me, porque não me criaram. Nunca deixarei de existir, nem de resistir. Na minha cabeça só permanece espaço para uma palavra: justiça.

Deixei de me dirigir aos homens, passei a falar diretamente Contigo, Deus qualquer, Deus de alguns seres, de certos mundos e de todos os tempos. Faz que os meus erros não se transformem em calamidades! Que não sejam sinais de ódio nem de perseguição!

Três pancadas sonoras. Apaguem as luzes — gritam.

As lâmpadas morrem. Rapidamente cego. Sou devolvido ao escuro absoluto. Todos os medos sem rosto recuperam vida. Filtram-se pelas paredes da cela e fazem-me companhia. Envenenam-me. A noite é mais que reclusão, é dúvida e desespero. Possam todos os homens lembrar-se de que somos irmãos. Empreguemos o instante que é a nossa existência a glorificar a justiça em mil linguagens. Tem de existir solução, ou estarei condenado a viver debaixo deste céu de cimento? Desta independência em que sobrevivo e da qual não consigo escapar?

Hélio Sequeira

Os Invulgares

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