Logo Loading

São 17 h 11 min. É quase noite. E voltámos ao mesmo. Sempre o mesmo. Acordamos ainda de noite. Queremos a noite. Queremos o dia. Ah… Não é isto e isto não pode continuar. Eu tenho de sair daqui. Eu quero ser professor ou empresário. E quero ter muito dinheiro e uma mulher bonita. Quero comer bem e vestir bem. Quero ter uma vida que me diga alguma coisa. Uma vida em que eu me sinta realizado. Isto assim não pode continuar. Que se queimem essas árvores! Montamos uma carvoíça! Este cerro… abaixo o cerro! Montamos uma empresa de construção civil! Vamos para a cidade! Vamos embora daqui! Vamos fazer alguma coisa! Vamos embora, pai! Vamos arranjar uma vida!

Uma vida? Que vida? Que esperas tu que seja diferente na cidade? Esperas não morrer? Encontrar a felicidade? Onde? Uma vida? Um sentido? Que amanhã seja melhor? O que é que vai ser melhor?

A vida é o estar sendo das coisas. O resto é uma negação da morte. Que o paraíso celeste é uma farsa, descobriste sem te o dizer. Mas que o paraíso terrestre também o é, ainda tu o não sabes. Amor? Dinheiro? Fama? Prestígio? Ostentação? Luxo?

Filho, há duas formas de viver: o saber viver e o querer viver. O querer viver é o aproveitar de todas as oportunidades da vida com o intuito de superar a antítese entre a vida e a morte. Aproveitando a vida,  esperamos que ela nos impulsione para a dimensão superior da eternidade. Pelo contrário, saber viver é conhecer o que é a vida essencialmente, e comungar da própria vida. Se quiseres, fica. Se quiseres, parte. Antes, quando nós sabíamos que a verdade era una, tínhamos o dever de castigar aqueles que criam na falsidade. Agora, que tudo é relativo, é a ti que cabe a decisão…

Luís Ramos

Os Invulgares

Comments(2)

    • José Serra

    • há 5 anos

    Passeio introspetivo enriquecedor; adulto: mais do que a jovialidade do autor prometeria.
    Apenas o conceito de morte poderá estar em dissonância com a ponderação dos anos acumulados… que, naturalmente, nem o autor nem os personagens têm de ter.
    Gostei intimamente do mergulho, que apenas oscilou na “carvoíça”.

    • Luís Carlos Vicente Ramos

    • há 5 anos

    …deixemos, portanto, a “carvoíça” oscilar para o passeio subsequente…

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *