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Inli, a criatura, nasceu no interior. O interior é delimitado por sequentes barras metálicas dispostas circularmente. O teto é branco pintado sobre betão no qual encaixam as barras. Em baixo, o chão é de betão forrado a azulejo. Aí nasceu Inli, numa coordenada que não sei precisar. Assim que nasceu, uma corrente branca fixada no centro do recinto foi presa ao pescoço de Inli. A medida da corrente foi determinada para que, no máximo da extensão, caso Inli decidisse esticá-la, esta completasse um raio perfeito na circunferência em que fora encarcerado. O corpo da criatura que arrastava a corrente branca não passava além das barras metálicas. Quando tomou consciência de si, Inli decidiu, antes de anoitecer, deitar-se na cama de madeira, arrastando a corrente branca. No dia seguinte, arrastando a corrente branca, decidiu Inli tomar o pequeno-almoço. Depois, sentando-se no sofá, arrastando a corrente branca, decidiu ligar a televisão, enquanto por sua própria vontade ouvia algo nos fones que lhe preenchiam os ouvidos. Aquele espaço sem paredes permitia-lhe decidir a sua vida dentro daquele espaço sem paredes, delimitado por barras metálicas. Ao longo do dia, esticando a corrente branca até onde esta permitia, Inli, a criatura, olhava para lá das barras metálicas o infinito. Um infinito luminoso e saturado de imagens que não conseguia distinguir, mas onde desejava ver-se.

Luís Ramos

(Os Invulgares)

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